O segundo dia do iBusiness começou com o case de sucesso “Backbones compartilhados entre ISP´s, sonho ou realidade?”. O mediador Eduardo Moradore disse que, diante dos problemas e dificuldades como alto custo de transporte, um dia os provedores sonharam em ter rede estadual independente de provedores de internet interligando a maioria destas cidades com fibra óptica. Ele questionou os palestrantes se o sonho é possível ou se é apenas uma utopia.
Hans Kuerten, da WIPP Telecom, respondeu que para os provedores da região sudoeste do Paraná este sonho já virou realidade. “Nossa rede compartilhada está funcionando há quase dois anos. Mais cedo ou mais tarde todos os provedores vão ter que acordar e construir sua rede, se interligando com outros, independente da Copel”, frisou.
A rede de Hans é interligada com a de Sidnei Batistella, do provedor Dez Telecom. Batistella disse que, além deles, já existem vários outros grupos de provedores fazendo projetos em conjunto. “Acreditamos que estas parcerias estão levando a internet do Paraná a um ponto em que muitos não acreditavam. As empresas que estão na mão da Copel têm que sair e investir em redes próprias”, aconselhou.
Os dois explicaram que a parceria nasceu quando as duas empresas perceberam que tinham interesses comuns. “Fizemos as contas e concluímos que a economia na parceria era muito grande, já que cada empresa deixou de investir onde o concorrente já tinha uma base instalada. A partir daí, como estávamos em duas empresas, as oportunidades surgiram em dobro, pois passamos a investir em outras regiões, sempre em parceria”, contou Batistella.
Segundo Hans, a parceria cresceu. Passou a ser não apenas em cabos, mas em outros ativos. “Percebemos que não precisávamos gastar duas vezes em suítes, não precisávamos manter duas equipes de manutenção. Fomos integrando detalhes de forma conjunta”, pontuou.
Os dois provedores começaram a parceria com 100 quilômetros de rede, ligando Realeza, Chopinzinho e Pato Branco. Hoje são mais de 450 quilômetros. “O investimento é superior a R$ 1 milhão. Se há um parceiro ao lado que pode compartilhar, por que realizar o investimento sozinho?”, provocou Hans.
Batistella disse que as empresas estão instalando as redes pensando em novas parcerias. “Temos no Paraná uma empresa (Copel) que tem o olho maior que o estômago, ou seja, não enxerga que as parcerias são importantes. É preciso ser aberto, ter confiança mútua, quando se faz uma parceria, não ocultar informações. Procure parceiros que tenham os mesmos objetivos, que vão atuar com transparência evoluir e ganhar com a parceria”. Hans finalizou garantindo que a melhor forma de buscar link com preço bom e transporte barato é a parceria.
IPv4 x IPv6
No painel, “Os IPv4 acabaram, e agora o que vai ser do meu ISP?”, o moderador Gilmar Santos, diretor de treinamento da Redetelesul, disse que foi visitar um amigo provedor, encontrou-o chorando, de cabeça baixa. “Perguntei se havia acontecido alguma fatalidade. Ele disse que sim e explicou que os IPs dele haviam acabado”.
Segundo Milton Kashiwakura, Diretor de Projetos Especiais do NICBR, esse problema apontado por Gilmar Santos não é só de quem tem os IPV4 esgotados. “Existem empresas tranquilas, mas se elas não fizerem ação para migrar para IPV6, logo vão ter um novo problema. Tudo aponta para a grande disseminação do IPv6, que é conhecido desde 1995, ou seja, não é algo novo. Hoje o IPv6 está maduro e operacional. Todos os problemas relacionados a ele estão decididos”, garantiu.
Segundo Kashiwakura, em 2011 foi proposto que os provedores oferecessem IPv6 para seus clientes, em especial empresas de conteúdo. Esperava-se que fosse um produto de prateleira e isso acabou demorando. E os sites web e outros serviços teriam que ativar o IPv6 em definitivo. “Mas, as coisas não eram tão simples, pois para o provedor este é custo adicional operacional e o cliente dele desconhece que precisa do IPv6. Depois, foram feitas algumas ações para incentivar as empresas a adotarem o IPv6 e muitos procuraram implantar esta tecnologia. Hoje o percentual de uso do IPv6 está em torno de 13%. A previsão é de que a internet será toda IPv6 em 2022”.
O professor Lacier Dias, representando a comunidade científica, disse que os grandes provedores vêm discutindo o fim do IPv4 há muitos anos. “Os problemas dos provedores regionais estão mais ligados à falta de uma arquitetura bem definida de rede. Um grande player, o backbone, continua IPv4. A estratégia pode ser mais simples do que a gente pensa, mas os autenticadores terão que fazer a entrega”, explicou Dias.
Ele fez uma série de provocações na sequência: “Que sistema o provedor usa? Dentro da própria empresa, os funcionários usam o IPv6? Como o provedor vai instalar o IPv6 no cliente se no próprio prédio esta tecnologia não é usada? O ideal é começar fazendo a lição de casa, ou seja, o próprio provedor usando O IPv6”, sentenciou.
Para o professor, somente depois de preparar sua estrutura para o IPv6, usar e testar, é que o provedor pode levar o sistema para os clientes. Segundo ele, existem arquiteturas de rede que são preparadas para exportar o IPv6 e que, independente do fabricante que o provedor usa, os mesmos já suportam este tipo de recurso. Lacier Dias considera que uma grande vantagem do IPv6 é “organizar a bagunça” que o IPv4 fez na rede. “O IPv6 foi projetado para ser um protocolo bem elaborado”. Ele também acredita que, para quem é técnico, é uma grande oportunidade de mercado ser especialista em IPv6.
Coragem
No painel, “SCM e SVA - O que eu faço?”, o presidente do Conselho Superior da Redetelesul, Marcelo Siena, frisou que o objetivo do debate do tema é sensibilizar o deputado Federal Edmar Arruda para que este leve o pleito do setor até Brasília. “Os ISPs são empreendedores regionais que estão fazendo negócios em suas cidades, gerando empregos e renda. Atuamos em um negócio em que muitos grandes players não têm coragem de atuar”, frisou. O deputado Edmar Arruda lembrou que é empresário e economista e colocou seu gabinete em Brasília e o escritório em Maringá à disposição dos provedores de internet.
O presidente da Abranet, Eduardo Parajo, disse que os empresários do setor não têm acesso a financiamento ou apoio dos governos. Ele lembrou que a cadeia de internet vem de um faturamento, que vem caindo, de R$ 144 bilhões. “Continuamos gerando 15 mil empregos por ano e nossas empresas estão estabilizadas”.
Parajo fez um histórico dos regulamentos e normas criados no setor. “O serviço de telecomunicações é uma coisa e os serviços que podem rodar sobre este primeiro serviço é outra coisa. A Lei Geral, em seu artigo 61, diz que os serviços de telecomunicações não podem ser confundidos com atividades de valor adicionado. Mas, houve uma nova interpretação, de que estávamos querendo burlar o Estado. E isto é que vem causando prejuízos às empresas do setor”.
Marcelo Siena complementou que o problema vem piorando devido ao crescimento das empresas que estão começando a sair do Simples. Ele também disse que estudo do BI aponta que a cada 10% no acesso de banda larga há um aumento de 1% no PIB, demonstrando a importância do setor.
Alan Silva, Advogado especialista em telecomunicações, disse que o tema vem sendo discutido há mais de dez anos. Ele fez uma explanação sobre cada um dos serviços, demonstrando a diferença entre o SVM e o SVA, além dos impactos negativos da polêmica sobre as empresas. “Houve caso em que a empresa, ao receber multa do fisco, teve que fechar as portas e já houve empresários sendo condenados na área criminal porque criaram empresas para prestares serviços distintos porque a empresa SVA estava oferecendo serviços clandestinos de telecomunicações. E o pior, o dono da empresa SCM também é processado criminalmente porque ofereceu para a empresa SVA a possibilidade de ele prestar o serviço de forma clandestina”, relatou Silva.
O advogado explicou de forma técnica porque os serviços dos provedores de internet devem ser divididos entre SVM e SVA. Ele disse que o modelo de prestação de serviços da atividade dos provedores de internet mais usual é o da empresa que cobra tudo como SCM para não ter problemas com o fisco. “Mas, ela não cresce e não gera empregos como deveria por estar limitada”, ponderou.
O segundo modelo de negócios é aquele que separa os dois serviços. O modelo ultrapassa a segurança jurídica, mas demonstra que existem as duas atividades diferentes. “E tem o modelo que consideramos com total similaridade com a norma e lei geral de comunicações, que é a prestação de serviços por empresas distintas. Este modelo tem sido amplamente massacrado Receita Estadual e pela Anatel, sendo motivo de ações judiciais”.
A proposta feita por Silva é inserir o serviço de internet dentro da lei que trata do ISS, fazendo com que ocorra um aumento da carga tributária das empresas, mas gerando segurança jurídica para as mesmas. “Com isso, podemos diminuir ou pacificar as fiscalizações do Estado”, justifica. Outra proposição é alterar a lei das telecomunicações, que passaria a preconizar que o serviço de conexão à internet é de valor adicionado. Ou alterar o Marco Civil, o que ajudaria a mudar a visão da Anatel
Basílio Perez, presidente do Conselho da Abrint, lembrou que a Norma 4 definiu o que é internet e discorreu sobre o serviço de valor adicionado, que precisa de telecomunicações. Perez lembrou que a internet é um dos possíveis serviços de valor adicionado e deu exemplos de atividades também enquadradas desta forma como monitoramento de câmeras de vigilância, sistemas de alarme de segurança remotos, serviço de aconselhamento telefônico, informação por fax e BBS, sendo estes três últimos pré-internet.
Diante das exposições dos painelistas, Edmar Arruda entendeu que o assunto é de suma importância para o futuro das empresas. Ele falou que para mudar a legislação, como no caso da mudança da legislação do ISS, é preciso uma estratégia. “Se simplesmente colocar como emenda ao projeto de lei, pode ficar muitos anos na gaveta, passando por comissões. A saída é incluir em Medida Provisória que seria definida em 90 dias”, explicou.
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